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O doce sabor de um alfajor para o pequeno Nicolas

O menino de 9 anos nasceu com atresia esofágica, foi operado no Hospital da Criança Santo Antônio e pode realizar o sonho de comer um alfajor.

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O mês de setembro se tornou um verdadeiro marco na história do pequeno Nicolas, de apenas 9 anos. Natural de Artigas, no Uruguai, ele teve a vida transformada após uma cirurgia de cerca de sete horas, liderada pelo cirurgião pediátrico Rafael Deyl no Hospital da Criança Santo Antônio e que colocou fim a uma luta iniciada ainda nas suas primeiras 24 horas de vida. Foram necessários menos de 20 dias de recuperação para que Nico, como é carinhosamente chamado pela família e pela equipe do hospital, pudesse pela primeira vez se alimentar sem dificuldades e ter a experiência de sentir o sabor do tão sonhado alfajor.

Nico, que comemorou a alta na quinta-feira (29/09), nasceu com atresia esofágica, uma malformação do esôfago, órgão que liga a boca ao estômago. Desde o nascimento, o pequeno torcedor do Penharol passou por sete cirurgias, além de outros inúmeros procedimentos antes de chegar na Santa Casa e teve uma vida marcada por desafios. Segundo o médico, os procedimentos realizados até então não tinham conseguido resolver os problemas de esôfago, nem mesmo o quadro pulmonar, impactado pela malformação.

“Ele chegou aqui com a persistência de uma fístula traqueoesofágica, um quadro que o acompanhou desde os primeiros dias de vida, impossibilitando que ele conseguisse comer ou sentir os alimentos”, explicou Deyl. Segundo o cirurgião, devido ao tamanho da fístula foi preciso uma série de readequações no processo cirúrgico, desafiando toda a equipe. “A gente tinha mais ou menos 10 cm de esôfago perdido, que estava ligado direto na traquéia e não no estômago”, lembra o médico. Além da retirada da fístula, também foi preciso realizar um procedimento de levantamento gástrico para que todo o trânsito intestinal pudesse ser reconstruído.

A bem-sucedida cirurgia foi realizada no dia oito de setembro, possibilitando um novo recomeço para Nico e a família. “O dia que eu vim de lá [do Uruguai], deixei meus outros filhos e não sabia sinceramente se ia voltar com ele. E agora a gente vai voltar e ele vai poder ter uma vida como qualquer outra criança, vai poder viver todas as experiências que ele não pode ter até agora. Parece um sonho ainda”, contou emocionada a mãe Márcia Fagundez Bordenave, que é casada com um brasileiro, permitindo que Nicolas pudesse ter direito ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

O melhor alfajor do mundo

Era manhã de sexta-feira, duas semanas após a cirurgia, e Nico já esperava ansioso pela visita do Dr. Rafael. Alguns dias antes, o médico havia perguntado o que o pequeno mais esperava comer, caso os exames permitissem. E a resposta já estava na ponta da língua: um alfajor de chocolate.

Como contou a mãe, foram nove anos esperando para sentir o sabor daquele que é um dos mais tradicionais doces uruguaios. “Nico sempre recebeu o doutor com um abraço, mas naquele dia foi ainda mais especial. Ele já chegou desembrulhando um pacotinho, entregou pro Nico e na hora pude ver o brilho no olho do meu filho”.

A mãe confessa que, ao mesmo tempo que sabia a importância daquele momento pro filho, ainda estava com medo, fruto de um sentimento nutrido pelas experiências que sempre colocaram a vida do filho em risco. Segundo Márcia, a primeira mordida foi tímida, cheia de receio, mas não demorou muito para Nico devorar todo o alfajor. A mãe não conteve as lágrimas, nem a equipe que acompanhava a realização do sonho de Nicolas.

Sentir o sabor do alfajor foi a primeira de uma série de novas possibilidades para Nico. Experiências essas que passam despercebidas no cotidiano de quem sempre soube o que é o sabor de uma simples fruta, do tradicional arroz com feijão ou de um delicioso alfajor.

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